RESENHA
Através de uma figura (dois círculos ligados um ao outro) a autora mostra que o sucesso escolar depende muito da habilidade de pensar autônomo e criticamente. A intersecção dos círculos mostra as coisas que aprendemos na escola e que foram úteis para o desenvolvimento da autonomia, por exemplo, a habilidade de ler e escrever, de ler mapas etc. Para Kamii, “se a autonomia é a finalidade da educação, precisam ser feitas tentativas no sentido de aumentar a área intersecção entre os dois círculos”.
Também coloca a autonomia em uma perspectiva de vida em grupo. Para ela, a autonomia significa o indivíduo ser governado por si próprio. É o contrário de heteronomia, que significa ser governado pelos outros. A autonomia significa levar em consideração os fatores relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Não pode haver moralidade quando se considera apenas o próprio ponto de vista. Assim o objetivo para ensinar o numero é o da construção que a criança faz da estrutura mental do numero, e o professor, deve priorizar o ato de encorajar a criança a pensar ativa e autonomamente em todos os tipos de situações. Para Kamii, uma criança que pensa ativamente à sua maneira, incluindo quantidades, inevitavelmente, constrói o numero.
Kamii afirma em seu livro que o meio ambiente proporciona muitas coisas que indiretamente, facilitam o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático. E “as crianças de culturas mais industrializadas geralmente desenvolvem-se mais rapidamente do que as de cultura menos industrializadas”. E ainda “as crianças de nível sócio-econômico médio-alto desenvolvem-se mais rapidamente do que as de baixa renda, e as que vivem na cidade, mais rápido que as das zona rurais”. ela elaborou também, seis princípios de ensino sob três títulos:
1. A criação de todos os tipos de relações
Encorajar a criança a estar alerta e colocar todos os tipos de objetos, eventos e ações em todas as espécies de relações.
2. A quantificação dos objetos
a. Encorajar as crianças a pensarem sobre numero e quantidades de objetos quando estes seriam significativos para elas.
b. Encorajar a criança a quantificar objetos logicamente e a comparar conjuntos (em vez de encorajá-las a contar).
c. Encorajar a criança a fazer conjunto com objetos móveis.
3. Interação social com os colegas e os professores.
a. Encorajar a criança a trocar ideias com seus colegas.
b. Imaginar como é que a criança está pensando, e intervir de acordo com aquilo que pareça estar sucedendo em sua cabeça.
O conhecimento matemático deve ser apresentado aos alunos como historicamente construído e em permanente evolução. Os recursos didáticos como jogos, livros, calculadoras, computadores e outros materiais têm um papel importante no processo de aprendizagem. A autora mostra ainda, a aplicação de jogos no auxílio à aprendizagem e fixação dos conceitos matemáticos tem por objetivo fazer com que o educando aprenda e construa os conceitos matemáticos através dos jogos.
O jogo e a brincadeira fazem parte da vida de qualquer indivíduo. O encantamento, fascínio e fantasia dos brinquedos e jogos acompanham o desenvolvimento da humanidade. Com relação ao jogo como recurso para auxiliar a aprendizagem, Kamii traz que a criança precisa ser encorajada na troca de ideias sobre como querem jogar, e ainda mostra diversos modelos de jogos e brincadeiras que podem ser bem aproveitados na aprendizagem da criança: dança das cadeiras, jogos com tabuleiro, jogos de baralho, jogos com bolinhas de gude, jogos da memória etc.
“Os jogos são atividades tão prazerosas e interessantes, por que não os trazer para a sala de aula e, assim, substituir as antigas atividades em folhas intermináveis que tornavam a aprendizagem um tédio? Trazendo o jogo para dentro da sala de aula, estaremos tornando a educação mais compatível com o desenvolvimento natural das crianças, ou seja, contribuiremos, para que a aprendizagem escolar seja relevante para o desenvolvimento.” (Constance Kamii).
Trabalhar com jogos é muito interessante e gratificante, pois o aluno aprende brincando dentro da sala. Mas é preciso que o educador tenha consciência que trabalhar assim não é fácil, exige uma atenção maior sobre os alunos para identificar o que precisa ser trabalhado e escolher o jogo certo para cada conceito matemático. Não se pode esquecer, que para tal trabalho, deve ser questionado: por que, quando, para que, o que se pretende, para que aulas não fiquem apenas no jogar por jogar.
O que levo de mais importante no livro é a colocação de que segundo Piaget a criança não constrói o número pela transmissão social, ou seja, aprendendo a contar. A estrutura lógico-matemática do número não pode ser ensinada, ela é construída pela própria criança, através do estímulo do professor proporcionando o desenvolvimento dessa estrutura mental através de situações de relações diversas. A tarefa dos professores é de incentivar o pensamento espontâneo das crianças e não apenas buscar respostas prontas. Aprender a contar, ler e escrever numerais é importante, mas se a criança não tiver construindo sua estrutura de número esta contagem, leitura e escrita será apenas memorização, sem sentido numérico. Também achei muito importante o resultado de uma pesquisa que indica que as crianças de nível sócio econômico mais elevado, desenvolvem o raciocínio lógico matemático mais rapidamente que os de baixa renda, isso influencia bastante na minha sala de aula, visto que trabalho com crianças de nível sócio-econômicos muito variados e com pouquíssimos estímulos familiares, retardando bastante esse desenvolvimento do pensamento lógico, não só na questão numérica inclusive na leitura e escrita.