quinta-feira, outubro 23, 2008

Discurso persuasivo: Filme Boa Noite e Boa Sorte

RESUMO: Este artigo mostra como o discurso, através da mídia, possui várias formas de persuadir uma sociedade. Usaremos como base o filme Boa Noite Boa Sorte, cuja sociedade, na época retratada, se encontra perseguida pelo Senador Maccarthy. É quando Ed Murrows junta seu poder de discurso com o poder da mídia, para interpretar a realidade através de seu programa jornalístico.


PALAVRAS-CHAVE: Televisão; Discurso; Mídia; Sociedade.


A manifestação verbal é um dos ancestrais meios de comunicação entre as pessoas. A fala surgiu da necessidade social humana de estabelecer ligações entre as pessoas, funcionando como um meio de unir e distribuir informações entre elas.
Ao longo do tempo foram construídas estratégias para seu uso, tanto na parte gramatical e sintática de seu conteúdo, como na compreensão de cada palavra proferida. Assim o falar bem se tornou dependente da linguagem, ou seja,


A linguagem não constitui, pois, uma função do falante: é o produto que o individuo registra possivelmente; (...) A fala é, ao contrário, um ato individual de vontade e inteligência, na qual convém distinguir: as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propó- sito de exprimir seus pensamentos pessoais. (Saussure apud Geraldi, 1996, p.84)



Enquanto, para realização individual utiliza-se apenas a fala, para maiores efeitos na sociedade, depende da língua. Afirma-nos ainda Geraldi (1996)


(...) a língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para que a ligua se estabeleça; historicamente, o fato da fala vem sempre antes. (...) Existe, pois, interdependência da língua e da fala. (p. 84)


Os meios de comunicação agitam, e até transformam o dia-a-dia das pessoas, apesar de também servir para entretenimento, mesmo que seja de má qualidade.
Segundo Citelli (2002), a sociedade encontra-se sob a influencia dos meios de comunicação. Estes têm provocado uma série de alterações nos modos de os grupos humanos se relacionarem, entre si, com a informação, e nas formas de ver e sentir as coisas, causadas principalmente pela presença marcante da imagem.
Muitas vezes, o impacto dos veículos de comunicação numa sociedade, pode justificar, mudar ou moldar a situação vivida num determinado momento. Podemos citar como exemplo, a imagem colocada pela mídia no dia 11 de setembro. A imagem dos dois aviões atravessando as duas torres, não será facilmente esquecida. Afinal a mídia fez muito para isso, reprisou diversas vezes em vários momentos do dia. Diante disso, podemos afirmar, a mídia pode transformara vida publica ou política num espetáculo, esvaziando nossas mentes para o que existia de significativo; onde podemos citar, as mortes, as diferenças ideológicas, religiosas e políticas entre o autor e a vitima do atentado.
A mídia, os órgãos de comunicação e informação, enquanto buscavam a atenção da população ao longo dos tempos, foi adquirindo cada vez mais peso dentro do comportamento e/ou da democracia da sociedade. De um lado, reflete o real, e do outro, ao mesmo tempo, interfere e condiciona as alternativas desta realidade,

(...) permitindo-o ver e conhecer um universo jamais visto por ser invisível a olho nu. Do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, um universo se 'cria', (...) para além daquelas captadas pelo olho humano, em outros espaços e em outros tempos também. (Parente apud Signo, 1997, p.84).


Desta maneira, num discurso não deve levar em conta só a informação, mas, o modo de comentá-la ou discuti-la. Pois,


Com a comunicação tem-se a possibilidade de forçar a modificação de opiniões, sentimentos e crenças, mediante a persuasão manipuladora, a sedução, a coação violenta e o domínio imposto. Isso ocorre porque em qualquer ato comunicativo sempre existe uma intenção básica, seja ela o simples informar, a mudança de atitude/comportamento (ação), a distração, o dar ordens, etc. (Parente apud Signo, 1997, p.10)


A exemplo disso temos os discursos que o protagonista do filme boa noite boa sorte faz ao questionar sobre os métodos que o senador Maccarthy usavam eram justos, e principalmente do consentimento de todos. Fazendo uso da mídia, ele conseguiu, através de seus discursos, penetrar na mente dos telespectadores, que passaram a criticar, também, aquela realidade. Podemos citar também, os debates políticos produzidos pela mídia. Tornam-se cenas de novela
Ao analisar um discurso, deve-se considerar, que diante da fala, não estamos sob a manifestação de um sujeito idealizado inarredável de sua enunciação, de sua visão de mundo, sendo assim


Para aceitar uma conclusão advogada por um certo comunicador depende em parte de quão bem informado e inteligente julgamos que o comunicador seja. É importante não só a extensão que o comunicador é percebido como fonte de informações válidas (isto é, sua competência), como também o grau de confiança que temos no intento do comunicador de comunicar às asserções que ele considera mais válidas. (Pfromm apud Carvalho e Hatje apud Signo, 1997, p.11).


Segundo Parente in Signo (1997), quando um sujeito recebe uma mensagem, recebe o aspecto da percepção que é puramente individual, ou seja, podemos viver num determinado contexto, mas nós agimos, pensamos, e sentimos como se fossemos de mundos diferentes. Alem disso, possuímos valores internos, experiências, crenças, conhecimentos, etc. que nos individualizam.
Sabemos que os discursos são formados por signos, mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para comunicar alguma coisa, e é esse mais, que os tornam irredutíveis ao ato da fala, das palavras. Essas, na verdade se mostram como aspecto materializado do discurso, visto que necessitamos da linguagem, sobretudo o verbal, o verbal como mediadora de nosso pensamento.
Para analisar os discursos segundo a perspectiva de Foucault (1986), precisamos antes de tudo, recusar as explicações consideradas unívocas, e olhar para o conjunto de signos como significantes, que estão ligados a determinados conteúdos, carregando algum significado, quase sempre oculto, dissimulado, distorcido, intencionalmente deturpado, cheio de 'reais' intenções escondidos no e pelos textos, claro, não sendo imediatamente visíveis. É também esse 'mais' que Foucault 1986, sugere ser descrito e apanhado no próprio discurso, pois as formações dos conceitos não residem na mentalidade dos sujeitos, eles estão no próprio discurso daqueles que falam. Assim o discurso ultrapassa o meramente lingüístico, não podendo ser texto, nem fala.
Podemos perceber que o discurso pode ser considerado uma ação social, pois, influencia diretamente as ações sociais que executamos no nosso dia-a-dia. E também porque “cada ato social tem um significado, e é constituído na forma de seqüências discursivas” (Laclau, 1991, p. 137)
Portanto, convêm aos grupos dominantes da mídia, produzir e espalhar os discursos mais convenientes aos seus interesses particulares, alem de controlar e tentar neutralizar discursos desfavoráveis. Isso é o que acontece com as eleições municipais, em relação à televisão, os carros ‘de som’, rádios, etc. as palavras de Foucault (1986, p.8-9),

(...) em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada, e redistribuída por certo numero de procedimentos que tem por função conjurar seus poderes e perigos, dominar os acontecimentos aleatórios, esquivar sua pesada e temível materialidade.


Assim,


Por mais que aparentemente o discurso seja pouco importante, as interdições que o atingem logo e depressa revelam a sua ligação com o desejo e com o poder. (...) o discurso não é simplesmente o que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, aquilo pelo que se luta, o poder do qual procuramos apoderar-nos. (Idem)



Enquanto as palavras, aquelas, que materializam o poder do discurso:

Ai, palavras, ai, palavras,que estranha potência, a vossa!Todo o sentido da vidaprincipia à vossa porta;o mel do amor cristalizaseu perfume em vossa rosa;sois o sonho e sois a audácia,calúnia, fúria, derrota...A liberdade das almas,ai! com letras se elabora...E dos venenos humanossois a mais fina retorta:frágil, frágil como o vidroe mais que o aço poderosa!Reis, impérios, povos, tempos,pelo vosso impulso rodam...
(Romance das Palavras Aéreas – Cecília Meireles)












REFERENCIAS

CITELLI, Adilson Odair. Escola e meios de massa. In CHIAPPINI, Ligia. Aprender e Ensinar com Textos não Escolares. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2002.

FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1986.

GERALDI, João Wanderley. Linguagem e Ensino: Exercícios de Militância e Divulgação. 3 ed. São Paulo: Mercado das Letras, 1996.

LACLAU, Ernesto. As políticas e os Limites da Modernidade. In HOLLANDA, H. B.(org.). Pós-Modernismo e Politica. 2 ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.

SIGNO. Santa Cruz do Sul: UNISC, 1997.